Extremamente Manipulável

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Os extremos políticos, tanto à esquerda quanto à direita, têm recorrido a estratégias populistas que exploram as fragilidades e os instintos mais básicos do eleitorado. Muitos cidadãos, alheios às maquinações do poder, encontram-se enredados numa teia de manipulação, tecida por forças que exibem uma natureza autoritária.

A proteção da democracia liberal exige, antes de tudo, uma compreensão lúcida dos mecanismos através dos quais somos manipulados.

A Heurística da Representatividade manifesta-se na exploração dos receios e incertezas económicas. Os partidos extremistas concentram-se em casos isolados, repetindo incessantemente a existência de riscos potenciais, mesmo quando desprovidos de qualquer fundamento objetivo. Associar os oponentes a estereótipos negativos é outra tática comum, esperando que os eleitores lhes atribuam, por contágio, outras características negativas.

A Heurística da Disponibilidade e da Recência é igualmente instrumentalizada, exagerando-se a probabilidade de eventos que são facilmente recordados. Os temas da criminalidade e da disfuncionalidade dos serviços públicos, por exemplo, são explorados ad nauseam para gerar alarme social e influenciar a perceção dos eleitores.

O Viés de Ancoragem assume, por sua vez, a forma da apresentação de números manifestamente absurdos – seja o valor do salário mínimo ou o número de beneficiários de subsídios sociais. Estes valores irreais servem como “âncoras”, descredibilizando, por contraste, as propostas mais razoáveis dos partidos moderados. Não podemos ignorar, neste contexto, a “canalhice” das sondagens e estudos internos, concebidos para criar cenários base que sirvam os propósitos narrativos dos manipuladores.

O Viés de Confirmação é explorado através da criação e da alimentação de câmaras de eco, desde as redes sociais aos grupos de Whatsapp, onde a informação partilhada tende a confirmar as crenças existentes e a promover uma lealdade cega ao partido, dificultando a exposição a ideias divergentes. A acusação de “notícias falsas” a órgãos de comunicação social críticos é, neste contexto, uma tática omnipresente.

A Aversão à Perda, por seu turno, é utilizada para condicionar o comportamento dos eleitores. De forma moderada, manifesta-se no discurso da oposição (“Se o governo fizer X, podemos perder Y”). De forma extremada, degenera em demagogia e, frequentemente, em pura mentira, com exemplos que vão do alegado “fim do SNS” à teoria da “substituição populacional”.

O Viés de Familiaridade encontra a sua expressão mais comum na retórica nacionalista, xenófoba e racista da extrema-direita. “Tudo o que é diferente, não é para a nossa gente” – eis o lema que ecoa nestes círculos. Mas a extrema-esquerda não está imune a este viés, manifestando uma resistência visceral a tecnologias como a energia nuclear ou a inteligência artificial, que dificilmente se entranham na sua “família” ideológica.

As duas extremas manipulam os cidadãos para cultivar uma sociedade moldada à imagem dos seus ideais, uma deriva autoritária que se manifesta na imposição de costumes e valores particulares. Se os “wokes” da esquerda parecem estar na mó de baixo, os “wokes” da direita ocuparam o seu lugar, com novas formas de sinalização de virtude. A moralidade e os “bons costumes” dos conservadores radicais não concedem qualquer tolerância àqueles que não pertencem à sua “tribo”, marginalizando as minorias e prejudicando a livre e civilizada troca de ideias.

O ataque às instituições é outra característica comum a estes extremos. A extrema-direita investe contra o sistema judicial, enquanto a extrema-esquerda ataca as forças policiais e militares. Os meios de comunicação social, invariavelmente acusados de servir “interesses obscuros”, são outro alvo preferencial. Os extremos prosperam numa sociedade onde a objetividade é desprezada, seja através do relativismo pós-modernista, seja através da elaboração de mentiras e teorias da conspiração que alimentam uma realidade pós-verdade.

A retórica da negatividade e da provocação é outra arma do seu arsenal. O bom senso e o consenso são atacados implacavelmente, com o “politicamente incorreto” e o ativismo do escândalo a servirem como instrumentos de arremesso. São parasitas da polémica, da qual depende a sua sobrevivência mediática.

Alimentam-se do antagonismo, com uma retórica populista que cria divisões artificiais, inviabilizando soluções de compromisso – um nutriente essencial para quem apenas se sente confortável na instabilidade política, com a sua agenda oculta de subverter as democracias liberais.

Exploram as dores daqueles que se sentem menos favorecidos, mesmo que as soluções que oferecem sejam simplistas e acabem por prejudicar outros, perpetuando o ciclo vicioso que alimenta a sua própria existência.

Perante estes extremos, à direita e à esquerda, o voto afigura-se, para muitos, como um ato de desespero. No entanto, existe uma grande maioria alternativa: o centro.

Um centro que se define pelo primado do indivíduo, e não pelos grupos que dividem. Um centro que se ancora nos factos e na objetividade, e não na desinformação e na demagogia. Um centro que promove o diálogo e a estabilidade governativa, como condições para a prosperidade, em vez do caos orquestrado por aqueles que procuram minar a democracia liberal.

Um voto na Iniciativa Liberal é um voto neste centro.

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